Sou um grande consumidor de vinhos brancos. Sempre fui. Quem me conhece destas lides da enofilia sabe que há muito que cultivo esta preferência, bem como apregoo o potencial que Portugal tem para produzir brancos de grande qualidade. Tem sido incrível a evolução dos nossos brancos nestes últimos anos e penso que esta lista ilustra-a na perfeição. A prova provada que não é necessário gastar muito dinheiro para beber um bom vinho.
O segmento de preço abaixo dos 5€ é onde as grandes casas produtoras apostam forte no volume, mas também na consistência, característica fundamental para fidelizar os seus clientes. Sendo por isso, à partida, uma boa garantia para o consumidor. Já nos produtores mais pequenos essa consistência poderá não ser tão garantida mas é aqui que encontramos verdadeiras jóias, muitas delas a passarem despercebidas nas prateleiras mais baixas dos supermercados.
Deixo 10 sugestões de vinhos brancos abaixo de 5€ de boa qualidade, com estilos e perfis distintos, mas todos aptos a fazerem um figurão nas mesas deste Verão. São vinhos que fui bebendo ao longo do ano (recuso a ideia dos brancos serem vinhos para o Verão) e que porventura serão as minhas primeiras escolhas dentro desta gama de preço. É uma lista pessoal e por isso obviamente subjectiva. Espero que possa contribuir para as vossas escolhas e que gostem dos vinhos.
Muros Antigos Escolha 2015 – Vem dos Verdes e é produzido por Anselmo Mendes, uma das maiores autoridades do nosso país no que toca a misturar uvas dentro de uma garrafa. Um lote de Alvarinho, Avesso e Loureiro, para um vinho jovem, deliciosamente fresco, com as notas cítricas a fazerem salivar e apenas 12% de álcool. Tragam os petiscos de Verão, com as Ameijoas à Bulhão Pato à frente. Custa cerca de 4,50€ e é fácil encontrar na grande distribuição.
Beyra 2015 – Um vinho produzido por Rui Roboredo Madeira na Beira Interior, em Figueira de Castelo Rodrigo, mais propriamente na aldeia de Vermiosa. As castas autóctones Síria e Fonte Cal dão origem a um vinho extremamente fresco, com os citrinos envolvidos em notas minerais, a criarem um conjunto simples, directo e muito saboroso. Acompanhem com um peixe na grelha e depois falem-me do vosso Verão. 3,99€ na grande distribuição ou garrafeiras.
Planalto Reserva 2016 – Penso que dispensa apresentações. Anda desde 1964 a combater o calor do Verão pelas esplanadas deste país afora. É produzido pela Sogrape no Douro e esta colheita de 2016, mantendo a consistência habitual, saiu particularmente feliz. As notas florais e frutadas são bem balanceadas por um conjunto elegante e muito fresco. Uma delícia todo-o-terreno à mesa. É um prazer poder sugerir um vinho tão mainstream que se encontra facilmente em qualquer local. 4,99€ na grande distribuição.
Tapada do Barro Colheita 2015 – Deste não tenho qualquer informação sobre castas nem métodos de produção. Sei que é produzido na Quinta da Tapada do Barro por António Silva Viana, em Vila Nova de Tázem, Gouveia, junto à Serra da Estrela. É um vinho simples e directo, com presença de fruta sem exageros, seco e com boa acidez. Perfeito para o consumo descontraído da época ou para acompanhar aquelas entradinhas ligeiras. Por 2,45€ é difícil encontrar melhor. Comprei-o no Intermarché de Seia e não sei se aparece noutras lojas desta cadeia. Cá para o Sul nunca o vi.
Terras do Mendo 2010 – Outro proveniente do parque de diversões que é a garrafeira do Intermarché de Seia. Este monocasta de Encruzado, com estágio em barrica, nasce em Oliveira do Hospital, junto ao Parque Natural da Serra da Estrela e é produzido pela Sociedade Agrícola Terras do Mendo. Tenho acompanhado este vinho ao longo dos últimos anos e constatado que o tempo tem passado por ele da melhor maneira. Estará agora, provavelmente, na sua melhor fase, com a barrica perfeitamente integrada, cheio mas elegante, num perfil fresco e de bom comprimento. Por 3.99€ é uma das maiores pechinchas da história da humanidade.
Madre de Água Encruzado 2014 – Sobre este vinho já falei nesta circunstância e penso que disse tudo. Outra enorme relação qualidade-preço vinda da região do Dão. A questão que se coloca neste momento é saber onde ainda é possível encontrá-lo. Eu comprei umas garrafas a mais para guardar em cave e ir bebendo durante os próximos tempos, penso que muitos tiveram a mesma ideia.
Somontes 2015 – Mais um do Dão. Este proveniente de um produtor já com alguma dimensão e mais conhecido da generalidade dos consumidores. A Casa da Passarella renasceu e os seus vinhos voltaram à mesa dos portugueses. A marca Somontes faz parte do segmento de entrada de gama deste produtor e apesar de mais acessível no estilo, não deixa de trazer um pouco da alma do Dão consigo. Um lote de Encruzado, Malvasia Fina e Verdelho, fresco, saboroso, com uma pequena sugestão de barrica a adornar o conjunto, é um vinho que à temperatura certa fará muitos amigos. É fácil de encontrar, por cerca de 4€, nas grandes superfícies.
Vale das Areias Arinto 2015 – A casta Arinto ganha cada vez mais adeptos. Da ponta mais a Norte, ao extremo mais a Sul, cada vez é presença mais assídua na mancha de vinhas do nosso país. É unânime que é uma casta extraordinária. Em Lisboa, principalmente em Bucelas, tem uma das suas regiões de eleição. Este Vale das Areias chega-nos da zona de Alenquer e é um vinho muito agradável, com tudo no sítio e, o mais importante para esta época estival, traz consigo muita frescura. É daqueles que ao final da tarde nunca deixa ficar mal uma mesa decorada com petiscos e recheada de amigos. Custa cerca de 4,50€ em supermercado e é mais fácil de encontrar lá pela zona de onde é natural.
BSE 2015 – O Branco Seco Especial da José Maria da Fonseca é outro dos vinhos mais míticos produzidos no nosso país. Não sei mesmo, se não será neste momento, a marca de vinho branco ainda activa mais antiga em Portugal. Dispensa por isso grandes apresentações. Tendo em conta a consistência reconhecida, esta colheita de 2015, com mais ênfase na Arinto, saiu particularmente, muito equilibrada e fresca, com o lado seco a ganhar destaque. Uma maravilha abaixo de 4€, fácil de encontrar em qualquer grande superfície.
AQ 2015 – Para terminar, uma boa surpresa chegada do Alentejo há pouco tempo. Um vinho que nunca tinha bebido nem nunca tinha ouvido falar. Produzido em Portalegre pela empresa Altas Quintas Lda. (a mesma dos vinhos 600, Crescendo, etc…), é um entrada de gama, proveniente de vinhas de altitude na Serra de São Mamede. Um lote de Arinto e Verdelho que surpreendeu pela frescura, com uma acidez vibrante, que em conjunto com a pureza da fruta, o bom volume de boca e a persistência final, resulta num vinho muito agradável e muito apto para a mesa. O maior problema é que o bebi na restauração e não faço ideia onde se encontra à venda, talvez pelos supermercados lá da região.