5ª de Mahler Branco 2000

Fernão Pires, Ribatejo e um branco com mais de dez anos, tudo na mesma frase, parece mentira mas não é...

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Conhecer um produtor, que nunca tinha ouvido falar, através de um vinho branco com mais de dez anos é algo muito pouco comum. É daquelas curiosidades que nunca mais se esquece. E quando esse vinho é um nobre desconhecido capaz de encantar tanta gente,  então aí estamos perante um daqueles acasos que ficará para sempre na memória de um enófilo.

Foi assim, desta forma pouco comum que um dia, numa mostra de vinhos em Santarém, me deparei com um produtor que não conhecia, a Sociedade Agrícola Areias Gordas. Fui atraído para a sua mesa pelo conjunto de vinhos que estavam expostos. Dois BiB’s (bag in box, aquelas caixinhas de cartão que associamos a vinho de garrafão, mas que actualmente, alguns deles, merecem outra atenção), um branco e um tinto, um colheita tardia e um branco do ano de 1999(!). O espanto foi maior quando provei o tal branco, de nome Terra Larga, pois não esperava que tal desconhecido pudesse estar numa forma tão boa.

Mais tarde, e assim chegamos ao vinho que trago a esta publicação, o produtor apresentou-me outro branco também com uma idade respeitável, o 5ª de Mahler Branco 2000. Feito exclusivamente da casta Fernão Pires, a partir de umas vinhas de tenra idade da propriedade do produtor em Salvaterra de Magos, foi produzido na altura com o objectivo de ser um “vinho de combate”, um entrada de gama para ser bebido no ano. A verdade é que uma questão técnica na produção do mesmo, fez com que fosse deixado de lado pelos consumidores, para acordar dez anos depois e deixar toda a gente espantada com a sua evolução.

Aquele entrada de gama, depois do inesperado estágio de dez anos em garrafa, tinha ganho uma complexidade difícil de explicar, uma prova viva que no vinho nunca há certezas absolutas e que enquanto houverem exemplos destes, o fascínio do imprevisível irá sempre existir no mundo dos vinhos.

Mostrou-se obviamente muito carregado na cor, com aromas de pão torrado, fruta cozida e leve caramelo, mais evoluído que em outras recentes provas, o que pode indicar que existam diferenças entre garrafas, tem alguma oxidação o que até lhe traz algum charme, na boca ainda mostra alguma acidez mas não merece mais guarda (como já não merecia no ano 2000, não sei se me faço entender). Convém ser decantado uns minutos antes do consumo e não ser bebido muito frio. Se fazem parte daquele restrito “bando de loucos” que gostam de brancos velhos têm de provar, aos outros, deixo o desafio para conhecerem algo diferente daquilo que estão habituados quando bebem um vinho branco.

5ª de Mahler Branco 2000
Sociedade Agrícola Areias Gordas
Abaixo de 4€ em venda directa no produtor
15,5 pontos

Nota: Este produtor lançou recentemente para o mercado um novo vinho, uma aventura de dois amigos nas vinhas das Areias Gordas, em Salvaterra de Magos. Tomaz Vieira da Cruz e Luís Cerdeira (Soalheiro) juntaram-se para fazer o Ao Contrário, um monocasta de Tinto Cão, fermentado sem desengace em barricas de castanho. Foram cheias 513 Magnuns (apenas disponível neste formato) e tem um preço de venda ao público de 40€. Isto tem tudo para correr muito bem, digo eu. 

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