Comer no Porto

Há cerca de 15 anos que não estava no Porto. Não falo de paragens circunstanciais, nem de idas rápidas para um almoço ou jantar. Falo de estar no sentido de desfrutar, de ter tempo para sentir a cidade, de ter disponibilidade para sentir o seu pulsar. Foi muito tempo e uma transformação gigante. Nem parecia a mesma cidade. Muito menos cinzenta, apesar de manter o seu caracter. Muito mais metropole, apesar de manter as suas tradições. O comércio modernizou-se mas, felizmente e inteligentemente, ainda consegue manter a aura autentica que só as gentes do Porto conseguem dar. Muito a aprender com este designio tem a Lisboa cada vez mais formatada dos dias de hoje. Uma cidade apaixonante. Que nos cativa a cada esquina, seja com aquele restaurante mais trendy e moderno, seja com aquela tasca impagavel, onde o sotaque tripeiro continua a trazer a autenticidade das suas gentes. Segue-se o resumo de quatro dias vibrantes, por entre novidades e certezas, um deleite para quem gosta de viajar e descobrir. Que possa servir de inspiração para lá irem e que, acima de tudo, estas dicas vos sejam uteis.

Tomar um “cimbalino”, comer um bolo e sentir o ambiente de uma das confeitarias mais antigas do Porto.
Ainda pela doçaria e ainda na zona do Bolhão merece visita a Cristo Rei para provar o bolo-rei. Seja o tradicional, o escangalhado ou qualquer outra versão mais modernaça.
Incontornável continua a ser o Mercado do Bolhão. A decadência charmosa de um simbolo da cidade, continua a encantar turistas e a alimentar os clientes habituais. Os pregões das peixeiras ecoam naquela construção centenária criando uma atmosfera alegre e autêntica.
Ainda no Bolhão, uma experiencia engraçada é beber um Porto nas muitas bancas para o efeito. Há umas mais castiças que outras e isso faz toda a diferença.
A gula é um pecado mortal, bem se sabe, mas no Porto é difícil resistir-lhe. A Comer e Chorar Por Mais é uma fusão de mercearia fina e loja gourmet e merece uma visita nem que seja para apreciar o aroma que por ali paira no ar. Aposto que de lá saem com água na boca.
Outra delícia da zona do Bolhão é a famosa A Pérola do Bolhão que estava a celebrar por esta altura o seu centenário (1917-2017). A bonita fachada em Arte Nova convida-nos a entrar para uma viagem pelas melhores especialidades gastronómicas.
A Casa Inês é um templo da gastronomia da cidade do Porto e é razão mais que suficiente para nos levar até à zona menos turística da Campanhã. Os famosos filetes de polvo nunca desiludem e a aletria é famosa. Não achei as doses tão fartas que fosse necessário seguir o conselho de pedir o “free container” mas achei piada à sugestão.
Uns metros mais abaixo da Casa Inês existem umas grandes portas vermelhas de madeira que escondem uma galeria de arte e um espaço de eventos. Chama-se Mira Forum e vale a pena espreitar as exposições, até porque neste dia muitas delas eram grátis.
A Ribeira, com o Douro aos pés, é o postal mais conhecido da cidade e um destino inevitavel para quem a visita. Mas por detrás daquelas fachadas coloridas, há o Barredo, o bairro residencial escuro e labirintico, de ruas ingremes, que com a sua aura medieval foi decisivo para a classificação do Porto como Patrimonio Historico da Humanidade. Ao calcorrear as suas ruas estreitas conseguimos respirar a verdadeira identidade portuense.
…Deixando a Ribeira para trás e seguindo a margem do rio no sentido da zona de Miragaia, vamos encontrar uma linha de edificios antigos, alguns exemplarmente recuperados e pelo meio, numa apelativa simbiose entre novo e antigo, as obras de muitos artistas que embelezam estas paredes…
…até chegarmos ao secular e bonito edifício da Alfândega do Porto, lugar de eventos, congressos e exposições, como a que tivemos a sorte de encontrar por estes dias. A fotografia de Steve McCurry leva-nos a paisagens e a vidas humanas distantes, pela lente deste famoso fotografo e viajante.
A vista é inspiradora e merece longos momentos de contemplação. A subida ao Miradouro da Serra do Pilar, junto ao Mosteiro com o mesmo nome, é recompensada com uma das melhores panoramicas do Porto (uma boa maneira de lá chegar é apanhar a linha laranja do Metro). Imperdível!
Terminada a contemplação, já com o telefone cheio de fotografias altamente instagramaveis, é hora de apanhar o Teleférico de Gaia (6€ com oferta de 1 copo de Porto na loja da Quinta de Santa Eufémia) que nos deixa na marginal, junto ao rio. A viagem é curta mas as vistas compensam.
Chegados cá abaixo e antes de matar a sede, vale a pena contornar pela esquerda o edifício da Casa Museu Ramos Pinto (que também merece uma visita), para ver o Half Rabbit, a obra de Bordallo II para o festival Gaia Todo o Mundo.
O edifício do Espaço Porto Cruz é dos que mais de destacam na marginal de Gaia. O seu aspecto moderno contrasta com a maioria das casas clássicas de Vinho do Porto, que têm aqui as suas caves e as suas lojas de recepção aos visitantes. No topo do edificio pode desfrutar-se de uma vista privilegiada enquanto se saboreia um Porto.
A Francesinha é das iguarias mais famosas do Porto e não há ninguém que não faça questão de se lambuzar com pelo menos uma durante as visitas à cidade. São muitos e bons os locais para a saborear, o Café Santiago é um deles e faz jus à fama que tem. Vale a pena enfrentar as filas à porta, com muitos turistas de mapa na mão, pois a dita é mesmo uma maravilha (Francesinha cerca de 10€, Fino cerca de 1,30€).
A cidade do Porto vive por estes dias o triunfo do bom gosto. Uma cidade nova, jovem e bonita, que vive em harmonia, valorizando-a, com a alma mais tradicional das suas gentes.
Lugares para beber vinho no Porto há muitos e acredito que bons, mas o Wine Quay Bar, com o Douro aos pés é certamente um dos mais recomendáveis. Bons vinhos, bom serviço e umas iguarias à altura para acompanhar.
O trabalho que Vasco Coelho Santos e a sua equipa estão a fazer no Euskalduna Studio, na zona de Santo Ildefonso, no Porto, é algo que toda a gente que gosta de dar ao dente deveria fazer um esforço por conhecer. Não temos, com esta qualidade e genialidade, assim tantos projectos em Portugal. Não é de uma refeição que se trata, é de toda uma experiência, que ao longo de quase três horas nos deixa totalmente rendidos.
Um bom programa para o sábado de manhã é visitar o Mercado Porto Belo na Praça de Carlos Alberto. Produtos biológicos, artesanato, velharias, discos de vinil ou roupas vintage é alguma da muita oferta deste mercado que acontece entre as 10 e as 19:00. Mesmo ao lado, na tradicional Rua da Cedofeita, encontramos o comércio tradicional em todo o seu esplendor.
Têm a fama de ser as melhores tripas à moda do Porto da cidade mas a excelência da cozinha do Rápido vai muito além desta especialidade tripeira. O Galo de Cabidela, a Costela Mendinha ou os Filetes de Polvo, são só outros três exemplos. Na zona de São Bento não há que enganar, é apanhar o Rápido que nos leva pelos melhores sabores da nossa gastronomia tradicional (Preço médio por pessoa 15€).
E a seguir ao Rápido, dois passos mais à frente, vale a pena entrar na Estação de São Bento e apreciar os bonitos murais de azulejos do século XIX.
1 café custa 3,50€ mas isso não afasta os muitos turistas que fazem fila à porta para conhecer um dos mais simbólicos estabelecimentos do Porto. A caminho dos cem anos de vida, o Café Majestic continua a encantar pela sua decoração e ambiente clássico. Apesar dos preços pornográficos merece uma visita, só não peçam Vinho do Porto, além de caro é de péssima qualidade.
O Icarai fica na Rua Sá da Bandeira e é um restaurante churrasqueira típico, de comida honesta a preços justos, como tantos outros que existem na cidade. A proximidade do local onde estávamos e o facto de já lhe ter ouvido louvores levou-nos lá por duas vezes. Uma para umas deliciosas e suculentas bifanas e a outra para as famosas costelinhas na brasa.
A felicidade por 3€. Não é difícil perceber porque o Conga é conhecido pelo santuário das bifanas, basta entrar e conferir. Uma instituição da cidade (bifana 2€, fino 1,10€).
Outra, ao mesmo nível é o Snack Bar Gazela. Que melhor maneira de terminar uma visita à Invicta do que com uns cachorrinhos no Gazela? Com molho picante e um Príncipe a acompanhar, claro.
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